Sem Âncora

Se as ondas são iguais,
Quem és para dizer-me
Que sou nauta incapaz
De navegar o leme?

Eu sei por onde vou,
Eu vou por onde quero;
Se o barco já afundou
É que era muito velho.

Sem âncora, sem medo,
Eu durmo na jangada;
Na vida eu quero vento,
Da morte eu sei a estrada.

Do porto que disseste
Passei não muito longe:
O horror eu vi e a peste;
Conheço bem a fonte.

E agora aqui me chamas
De louco, de varrido;
Se tu dormes na cama,
E eu não quero abrigo!

E tu tens teto e porta,
Mas eu mal tenho chão!
A fome não me importa,
Mas tu choras sem pão!

Eu quero tudo ver:
Viver eu vou sem muro!
Tu queres tudo ter:
Findar tu vais seguro!