Sujeira

No canto da vida se junta a poeira
Dos anos vividos em vão;
Quem pensa ser livre do mal da sujeira —
Mister é olhar para o chão.

Pois anos e meses gastei excruciantes
Em guerras e lutas sem fim;
Os frutos, porém, cada vez mais distantes
O amargo cresceram em mim.

Vaguei titubeante por rumos incertos,
Em portas caladas bati;
Gastei os meus dentes em risos abertos,
Que nulo valor têm aqui.

O cândido a morte colheu paciente;
O enterro, se houve, não sei;
O cínico ergueu-se em fogueira luzente,
Loquaz promulgando sua lei.

Agora eu me vou cabisbaixo e soturno;
No peito a noção: tanto faz.
De olhos no chão eu me vou taciturno
Não tenho mais chance de paz.

O “imune” que guarde o otimismo com afinco
Lá junto do altivo candor;
A chave pois já se aproxima do trinco
Da porta em que mora o sopor.